O que a Ciência Diz Sobre Cannabis Medicinal?
- Dr. Matheus Prestes
- 28 de fev.
- 4 min de leitura

Para iniciar os trabalhos, reunimos artigos, evidências atualizadas e revisões científicas que comprovam os potenciais terapêuticos da cannabis. A ciência é nossa base!
1. Cannabis e Dor Crônica: Mecanismos Biológicos e Evidências Clínicas
A dor crônica é um desafio global, e a cannabis surge como uma alternativa aos opioides (analgésicos fortes), que têm alto risco de dependência. O relatório do NASEM (2017) analisou mais de 10.000 estudos e concluiu que os canabinoides, como THC e CBD, interagem com o sistema endocanabinoide (SEC) – uma rede de receptores (CB1 e CB2) envolvida na modulação de sistemas - neste caso, da dor.
Mecanismo de Ação:
O THC ativa os receptores CB1 no cérebro e na medula espinhal, reduzindo a transmissão de sinais dolorosos.
O CBD impossibilita a recaptação de anandamida (um canabinoide endógeno - produzido pelo nosso próprio corpo), prolongando seu efeito analgésico.
Dados Clínicos Relevantes:
Um ensaio clínico duplo-cego publicado no Journal of Pain (2018) mostrou que pacientes com dor neuropática tiveram redução de 30% na intensidade da dor usando cannabis medicinal, comparado a 17% com placebo.
Em condições como fibromialgia e esclerose múltipla, a cannabis mostrou eficácia na melhora da qualidade de vida, segundo revisão do European Journal of Pain (2020).
Por Que Isso é Revolucionário? A cannabis oferece uma via terapêutica para pacientes resistentes a opioides, com menor risco de overdose. Mas é crucial ajustar a proporção THC:CBD para evitar efeitos psicoativos, por isso a importância de acompanhamento.
2. Epilepsia Refratária: Do Laboratório à Prática Clínica
A aprovação do Epidiolex® (canabidiol purificado) pela FDA (Food and Drug Administration) em 2018 foi um marco histórico para a medicina e a ciência da cannabis. Isso não só validou o potencial terapêutico do CBD, mas também abriu caminho para uma nova era de pesquisas e tratamentos baseados em canabinoides. O estudo de Devinsky et al. (2017) no NEJM foi crucial para essa evolução:
Resultados Detalhados:
120 pacientes com síndrome de Dravet receberam CBD (20 mg/kg/dia) ou placebo.
O grupo CBD teve redução de 39% nas convulsões mensais, contra 13% no placebo.
5% dos pacientes ficaram livres de convulsões durante o tratamento.
Mecanismo Anticonvulsivante:
O CBD não age apenas nos receptores canabinoides: modula canais de cálcio (TRPV1) e receptores de serotonina (5-HT1A), estabilizando a atividade neuronal.
Apesar do sucesso, o custo do CBD purificado e a falta de acesso em países não industrializados ainda dificulda a difusão. Além disso, 30% dos pacientes não respondem ao tratamento, exigindo pesquisas sobre combinações de canabinoides.
3. Saúde Mental: Entre a Esperança e os Riscos
A relação entre cannabis e saúde mental é paradoxal. Enquanto o CBD mostra potencial terapêutico, o THC pode agravar transtornos em doses elevadas.
CBD para Ansiedade:
Um estudo humano pioneiro na Neuropsychopharmacology (2019) demonstrou que 600 mg de CBD reduziram a ansiedade induzida por falar em público, com efeitos comparáveis ao alprazolam (mas sem sedação).
A modulação do receptor 5-HT1A pelo CBD explica seus efeitos ansiolíticos, conforme modelos animais no Brazilian Journal of Psychiatry (2021).
THC e Psicose:
Uma meta-análise no Lancet Psychiatry (2019) alerta que o uso diário de cannabis com alto THC (>10%) aumenta o risco de psicose em 50%, especialmente em adolescentes.
Já baixas doses (1-5 mg de THC) podem ter efeitos ansiolíticos e antidepressivos, conforme demonstrado em um estudo duplo-cego da Neuropsychopharmacology (2017), pois modulam a liberação de serotonina e dopamina, promovendo relaxamento sem intoxicação.
A cannabis não é "boa" ou "ruim" – seu impacto depende do perfil químico da planta e do contexto clínico. Devemos priorizar produtos com CBD dominante e monitorar sintomas psiquiátricos.
4. Doenças Neurodegenerativas: Da Teoria à Prática
A neuroinflamação é um fator-chave em Alzheimer e Parkinson. Canabinoides como o CBD e o THC demonstraram propriedades neuroprotetoras em estudos pré-clínicos:
Alzheimer:
Um estudo em camundongos no Aging and Mechanisms of Disease (2020) mostrou que o CBD reduziu placas beta-amiloides e melhorou a cognição.
Em humanos, um ensaio fase 2 no Frontiers in Pharmacology (2022) usou um spray de THC:CBD (Sativex®) e observou redução na agitação de pacientes com Alzheimer.
Parkinson:
O THC pode ajudar no controle de tremores, mas altas doses pioram a rigidez muscular. Já o CBD tem efeito promissor na qualidade do sono, segundo pesquisa no Journal of Psychopharmacology (2021).
A maioria dos dados vem de modelos animais ou estudos pequenos. A comunidade científica pede ensaios de longo prazo para validar a segurança em idosos.
5. Segurança: Mitos e Fatos Comprovados
A cannabis não é isenta de riscos, mas seu perfil de segurança é superior ao de opioides e benzodiazepínicos quando usada corretamente:
Efeitos Adversos Comuns (Curto Prazo):
THC: Boca seca, taquicardia, ansiedade (dose-dependente).
CBD: Sonolência, diarreia em doses altas (>1.500 mg/dia).
Riscos de Longo Prazo:
Uso crônico de THC (>20% de concentração) está ligado a dependência (9% dos usuários) e prejuízos cognitivos leves, conforme o Journal of the American Medical Association (2022).
Não há evidências de mortalidade direta por overdose de cannabis.
A padronização de extratos (com dosagens claras de THC e CBD) e o acompanhamento multidisciplinar reduzem riscos.
A Ciência Precisa de Mais Vozes
A cannabis medicinal não é uma "cura milagrosa", mas uma ferramenta validada por evidências. Para avançar, precisamos:
Regulação Clara: Legislações que incentivem pesquisas clínicas.
Educação Profissional: Cursos de atualização para médicos sobre canabinoides.
Acesso Democrático: Redução de custos para pacientes de baixa renda.
Quer entender mais sobre como a ciência comprova os benefícios da cannabis medicinal? Continue acompanhando o CannaHub! Aqui, você encontra conteúdo embasado, atualizado e feito para quem busca saúde com rigor científico.
Fontes:
National Academies of Sciences, Engineering, and Medicine. (2017). The Health Effects of Cannabis and Cannabinoids. <https://nap.nationalacademies.org/catalog/24625/the-health-effects-of-cannabis-and-cannabinoids-the-current-state>
Devinsky, O. et al. (2017). Trial of Cannabidiol for Drug-Resistant Seizures in the Dravet Syndrome. NEJM. <https://www.nejm.org/doi/10.1056/NEJMoa1611618>
World Health Organization (2018). Cannabidiol (CBD): Critical Review Report. <https://cdn.who.int/media/docs/default-source/controlled-substances/whocbdreportmay2018-2.pdf>
Blessing, E. M. et al. (2020). Cannabidiol as a Potential Treatment for Anxiety Disorders. Neurotherapeutics. <https://www.neurotherapeuticsjournal.org/article/S1878-7479(23)00814-0/fulltext>
Fernández-Ruiz, J. et al. (2021). Cannabinoids in Neurodegenerative Disorders: An Overview. Frontiers in Aging Neuroscience. <https://www.neurotherapeuticsjournal.org/article/S1878-7479(23)00811-5/fulltext>
Huestis, M. A. et al. (2021). Cannabis Safety: Risks, Monitoring, and Guidelines. Cannabis and Cannabinoid Research. <https://www.liebertpub.com/doi/10.1089/can.2021.0153>
No CannaHub, acreditamos que a ciência salva vidas. Nosso conteúdo é feito por especialistas, para quem busca respostas confiáveis. 🌱🔬






Comentários