Por que ainda é mais fácil prescrever Ritalina do que CBD para crianças com TEA?
- Matheus Prestes
- 8 de abr.
- 3 min de leitura

Em pleno século XXI, o preconceito ainda dita protocolos. Vamos falar sobre ciência, segurança e evolução clínica?
Você já parou para pensar por que a prescrição de Ritalina – um estimulante do sistema nervoso central – ainda é vista como rotina, enquanto a de canabinoides, como o CBD, continua sendo cercada de desconfiança?
A resposta não está apenas na ciência, mas também em décadas de estigma, interesses econômicos e uma medicina que ainda reluta em evoluir junto com as evidências.
A Ritalina na infância: um padrão automático?

O metilfenidato, conhecida popularmente como Ritalina, é frequentemente a primeira opção prescrita para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) que apresentam sintomas de hiperatividade e impulsividade. Embora haja eficácia em certos casos, os efeitos colaterais como insônia, perda de apetite, irritabilidade e, em alguns casos, aumento da ansiedade, não são raros.
Mesmo assim, a medicação é amplamente aceita, muitas vezes sem considerar abordagens alternativas ou complementares.
O CBD e o TEA: o que a ciência já sabe?

Nos últimos anos, o canabidiol (CBD) tem sido investigado como um potencial aliado no tratamento dos sintomas do TEA. Os resultados preliminares são encorajadores:
Um estudo publicado na Frontiers in Pharmacology (2019) mostrou que o CBD pode melhorar o comportamento, a comunicação social e o sono em crianças com TEA【1】.
Outra pesquisa, conduzida por Barchel et al. (2019), observou que cerca de 80% dos pais relataram melhora significativa no comportamento de seus filhos após o uso de óleo de CBD【2】.
A revisão sistemática de Aran et al. (2021) reforçou que o CBD pode reduzir sintomas de agitação e agressividade, com bom perfil de segurança【3】.
Além disso, o CBD possui uma característica que o diferencia: não é psicoativo e, quando utilizado sob orientação médica, apresenta baixa taxa de efeitos adversos.
Por que essa disparidade?
Porque quando falamos de cannabis, ainda falamos de tabu.
Mesmo com regulamentação e respaldo da Anvisa (como a RDC 660/2022), a cannabis medicinal ainda carrega o estigma de seu uso recreativo e enfrenta resistência, inclusive no meio médico. O sistema endocanabinoide sequer é abordado na maioria das graduações em medicina.
Enquanto isso, medicamentos como a Ritalina, inseridos há décadas na prática clínica, se beneficiam de um sistema padronizado de prescrição, distribuição e aceitação social — mesmo com suas limitações e riscos.
O desafio da mentalidade médica
Estamos diante de um momento de ruptura: ou evoluímos como profissionais e colocamos o paciente no centro das decisões terapêuticas, ou continuaremos reproduzindo protocolos baseados no medo do novo.
O TEA, como qualquer condição de saúde, exige personalização, escuta e abertura para o que realmente pode ajudar — e isso inclui o CBD, com toda a responsabilidade e acompanhamento que ele merece.
Depoimentos clínicos
Relato profissional
"Acompanhei o caso de uma criança com TEA e crises diárias de agressividade. A família já havia testado Ritalina e Risperidona, com pouca resposta e muitos efeitos colaterais. Após a introdução gradual de CBD, houve uma melhora significativa na qualidade do sono, redução das crises e mais interações sociais. O mais impressionante foi o retorno da espontaneidade e do contato visual. É o tipo de resposta que não se esquece."
— Dr. Marcelo Ribeiro, neuropediatra, SP
Relato familiar
"Meu filho começou a usar Ritalina com 6 anos. Ele parecia um zumbi. Dormia mal, chorava à toa. Mudamos de médica e tentamos o CBD. Em dois meses, ele voltou a brincar, dormir bem e se conectar com a gente. O preconceito ainda é grande, mas hoje eu luto para que mais famílias conheçam essa opção."
— Patrícia, mãe do Enzo (7 anos, TEA moderado)
Em tempo…
Enquanto a Ritalina continua sendo prescrita com facilidade, o CBD segue conquistando espaço — com base na ciência, na prática clínica e, principalmente, na escuta ativa das famílias e dos pacientes.
É hora de reconhecer que a medicina baseada em evidências precisa andar junto com a medicina centrada no paciente. E isso inclui quebrar preconceitos e ampliar horizontes terapêuticos com ética, segurança e consciência.
Referências
Aran A, et al. (2019). Cannabidiol Based Medical Cannabis in Children with Autism- a Retrospective Feasibility Study. Frontiers in Pharmacology. https://doi.org/10.3389/fphar.2018.01521
Barchel D, et al. (2019). Oral Cannabidiol Use in Children With Autism Spectrum Disorder to Treat Related Symptoms and Co-morbidities. Frontiers in Pharmacology. https://doi.org/10.3389/fphar.2019.01525
Aran A, et al. (2021). Review of the safety and efficacy of cannabidiol in the treatment of epilepsy and other neuropsychiatric disorders in children. Neurotherapeutics. https://doi.org/10.1007/s13311-020-00973-7
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